Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2016

Fora do peito

Há mais de um ano que não sei o que é estar sozinha. Fosse onde fosse sabia que ele já lá estava. Um coração pequenino a bater compassado com o meu. Sossegado julgava eu, até se fazer sentir com o mais doce dos pontapés. Se em nove meses nunca o larguei porque havia de o largar nos seis que passou cá fora. Foram intensos, arrebatadores, cansativos mas cheios de um amor que eu não conhecia e que quis viver sem folgas. E agora custa tanto. E a culpa se calhar é minha. Devia tê lo deixado aprender a viver sem mim. Mas eu não conseguia viver sem ele. Será? Terei falhado redondamente em tão pouco tempo de vida? Hoje volto a ficar sozinha. O papá já foi trabalhar e o G. continua a adaptação para a creche. E eu estou aqui, ainda tão inadaptada quanto ele. Já não sei viver assim. Com tempo para gastar a fazer qualquer coisa quando a única coisa que me dá prazer fazer é, nestas horas feita por estranhos. E se é estranho que outras mãos lhe peguem, o vistam, o dispam, o alimentem, o embalem.

Carta ao meu filho

Quando fores capaz de ler isto, tenho a certeza que vamos rir os dois. Rir do problema que era e do sucesso que foi. Mas por agora choramos. Choro eu de ansiedade e medo e choras tu por me sentires assim. Isto é tudo novo para os dois, apesar de toda a gente dizer que me custa mais a mim do que a ti. Mas eu sei que não. Custa me tanto a mim deixar te como a ti procurar me e não me ver. Eu sei que sim. A única diferença é que eu sei dizer porque choro e tu não. Como é que não te custaria se até agora o meu colo era constante. Se a cada choro teu era em mim que te aninhavas. Se mamar era mais que um ritual com horas contadas. Era a toda a hora, era quando querias. Era por fome, por sono ou só por miminho. Custa muito meu amor, eu sei. Mas quero que saibas que também temos sofrido. Depois de te deixar, eu e o papá damos as mãos e apertamo las com força. Eu choro e o papá passa me o braço por cima dos ombros e vamos assim até ao carro. É só uma hora ou duas mas tem custado tanto a passa

És o meu maior milagre

Faz hoje um ano que vim para casa esperar por ti. À partida a gravidez não era de risco mas poderia passar a ser, caso apanhasse alguma das infeções que tratamos no meu serviço. Para não falar do cansaço e das vezes que quase adormeci nos 80km diários que fazia para ir trabalhar. Sinceramente a decisão da médica foi um alívio. Engravidei numa altura em que tivémos um pico de doentes infetados e cada vez que entrava num dos quartos subia me um nó à garganta. Este filho não era só meu e prejudicá lo com alguma doença, ainda por cima contraída ali seria uma culpa triste de carregar. Por isso, quando finalmente vim para casa é que comecei verdadeiramete a desfrutar de ti. Sem stress, sem pressa, sem medo. Foi o melhor que me podia ter acontecido e foram os melhores meses da minha vida. Quando olho para trás consigo lembrar me ao pormenor de determinados dias e situações. Lembro-me do primeiro dia em que, com calma me besuntei em creme para as estrias. Ainda mal se notava a barriga mas h

O melhor e o pior de Março

Março chegou com um sabor agridoce. Para mês mais bonito do ano já me fez chorar a bandeiras despregadas porque cada anoitecer me tem trazido menos um dia de licença. Muitos dirão 'está a acabar o bem bom' com aquele tom de 'estás há um ano em casa e ainda achas pouco'. Mas o meu bem bom está longe de ser o facto de não trabalhar. Trabalharia de bom grado se isso não significasse perder grande parte do ano mais espetacular da vida do meu filho. E é isso que me custa. Não é o 'ir trabalhar em si'. De qualquer maneira tenho deixado a tristeza chegar de mansinho só um bocadinho quando o sol se põe e me lembro 'já passou mais um dia' ou 'já tenho menos um dia'. Porque Março vai ser, apesar de tudo, um bom mês. É o mês do pai gozar a licença o que significa que, estando eu a gozar férias, temos um mês inteirinho a três. Coisa que não se repetirá. E é tão bom. Às sete da manhã vê-lo acordar e trazê lo para o nosso meio onde volta a adormecer com uma