Há algum tempo que quero escrever sobre isto, mas em bom rigor, não achava que tivesse acabado. Porque ele ainda pedia, eu não oferecia mas não negava e portanto, de vez em quando ele ainda mamava. Mais à noite, só por miminho, mas mamava.
Há dois dias voltou a pedir e eu, não neguei, mas disse-lhe o que vinha a dizer-lhe desde que senti que estava na hora. Disse-lhe que as 'maminhas estão velhinhas' e que se calhar já não tinham leitinho. Pela primeira vez ele não insistiu. Aconchegou-se no meu colo, pousou a mão nas 'maminhas cansadas' e adormeceu.
Hoje parei e fiz as contas. A última vez que ele mamou foi quando esteve doente, com febre, há precisamente vinte e dois dias. Pediu e mamou até adormecer à hora da sesta. Nunca esteve um período tão longo sem mamar, portanto acho que talvez desta vez seja mesmo o fim. Achei que ia sofrer, que ia chorar, que ia mais uma vez ser o fim do (meu) mundo, mas não. Estou bem, em paz e, em relação a este assunto reina uma serenidade que só pode significar que tudo se desenrolou da forma e no momento certo.
Quando me deparei com as dificuldades iniciais da amamentação nunca imaginei chegar tão longe. Tomara eu conseguir amamentá-lo até aos seis meses! Era essa a minha meta e o meu desejo. Depois os seis meses passaram e eu quis muito conseguir chegar ao ano de idade. Lá para os 11 meses acreditei verdadeiramente que o nosso caminho seria mais longo do que alguma vez imaginei e que juntos, iríamos escrever mais uma história de amamentação prolongada. Acho que foi isso mesmo que fez a diferença: querer e acreditar.
Em termos cronológicos, não sei precisar quando percebi que Eu estava preparada para o desmame. Sei, no entanto, que houve um momento a partir do qual comecei a pensar que, se terminasse, já não me traria tristeza, angústia ou qualquer sensação de perda. Procurei no entanto, mais uma vez, alinhar o meu tempo e o dele. Foi quando deixei de oferecer e passei a dar apenas quando ele pedia. Primeiro ele pedia todas as noites em que eu estava. Depois começou a saltar algumas noites e eu passei então a dizer-lhe, sempre que ele pedia, a tal lenga-lenga das maminhas cansadas. Ele entendia, mas nunca aceitara ficar sem mamar, pelo menos um 'cadinho desta' (dizia ele a apontar só para uma). Até há dois dias, o tal dia em que aceitou 'a desculpa' e adormeceu.
Acredito que realmente este seja o fim da nossa história de amamentação e sou muito grata por isso. Não por ter chegado ao fim, mas por este desfecho tão sereno. Acho que foi a maior recompensa que a vida nos podia dar, a mim e ao meu filho, pela nossa perseverança em trilhar este caminho. Trinta e três meses deste caminho que termina com o reflexo do que esta experiência foi para nós: absolutamente maravilhosa.
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