Música. O G adora música. Desde sempre, desde a barriga acho eu. Sempre cantei e toquei para ele.
Logo nos primeiros dias qualquer melodia que ouvia o acalmava e o fazia dormir. Mas agora, agora é diferente. Agora ele pára o que estiver a fazer só para ouvir as músicas que gosta. E melhor ainda, ele pára e sorri embevecido se sou eu que lhe canto baixinho. Pode ser a Luzinha da Sara Tavares, o João da Luísa Sobral ou qualquer fado da Ana Moura ou Marisa. Não interessa. Interessa que ele rasga um sorriso e me olha nos olhos e eu sei que o tempo que passei a cantar para ele e a embalar lhe os sonhos lhe chegou ao coração.
Custa muito. Custa tanto que às vezes acho que não vale a pena. E uso a palavra 'custar' de propósito porque, bem vistas as coisas, há sempre uma associação ao nosso salário: são pagos para isso, não fazem mais do que a vossa obrigação. E ouvir isto assim, dito da boca para fora, magoa. Magoa muito. Magoa porque quem o diz, não faz ideia de quanto custa, por exemplo, amparar a queda de quem descobre que vai morrer. A quem é dito que já não há cura. Amparar o desencanto de sonhos interrompidos aos 20, aos 30, aos 40 anos. Não importa a idade. São sempre sonhos de alguém. Não faz ideia de que é inevitável projectarmos a nossa vida nestas vidas e que vivemos sempre assustados com o que nas nossas vidas pode surgir. Magoa porque não fazem ideia de quanto custa segurar na mão de quem parte e depois segurar na mão de quem fica. Aliás, a maioria das pessoas nunca teve que ver um cadáver de perto, quanto mais acompanhar essa passagem tão avassaladora, que culmina num último s
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