Avançar para o conteúdo principal

Planos suspensos

Às vezes acho que as pessoas duvidam de mim. Está na cara. Na expressão. No tom com que me respondem.
Não as censuro.
É difícil de acreditar que alguém, a dez dias do fim do mês, não tenha planos para o mês seguinte. Que a dez dias do fim do mês não possa confirmar presença num almoço de família. Não saiba o que vai fazer no dia da criança. Não consiga confirmar disponibilidade para fazer um bolo para o filho da amiga. Não saiba se vai á festa da escola do próprio filho.
Ainda por cima às vezes com coisas marcadas, liga a dizer que afinal não dá. Que afinal trabalha. Que lhe deram mais um turno. Que estava de folga mas já não está.
Eu sei. Não é fácil de acreditar. Mas acreditem que também não é fácil de viver. Uma vida em suspenso. Ver planos adiados, deixar amigos pendurados e encontros por marcar.
E este desencontro cansa. E por saber disso, às vezes acabo por não marcar. Porque já sei que não vai dar.
E não marcar é deixar de estar presente. É deixar de ser lembrado. É ser muitas vezes julgado como não está porque não quer estar. Quando isso é a única parte da história que é mentira.

Créditos da imagem: Life on a Draw

Comentários

  1. Muito bom! Partiu-me o coração.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Só vi hoje o seu comentário Márcia. Obrigada por estar desse lado. Infelizmente é a realidade de grande parte de uma classe, e é muito triste.

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Quanto [me] custa ser Enfermeira

Custa muito. Custa tanto que às vezes acho que não vale a pena. E uso a palavra 'custar' de propósito porque, bem vistas as coisas, há sempre uma associação ao nosso salário: são pagos para isso, não fazem mais do que a vossa obrigação. E ouvir isto assim, dito da boca para fora, magoa. Magoa muito.  Magoa porque quem o diz, não faz ideia de quanto custa, por exemplo, amparar a queda de quem descobre que vai morrer. A quem é dito que já não há cura. Amparar o desencanto de sonhos interrompidos aos 20, aos 30, aos 40 anos. Não importa a idade. São sempre sonhos de alguém. Não faz ideia de que é inevitável projectarmos a nossa vida nestas vidas e que vivemos sempre assustados com o que nas nossas vidas pode surgir. Magoa porque não fazem ideia de quanto custa segurar na mão de quem parte e depois segurar na mão de quem fica. Aliás, a maioria das pessoas nunca teve que ver um cadáver de perto, quanto mais acompanhar essa passagem tão avassaladora, que culmina num último s

Eu e a festa dele: dois anos.

Setembro nunca me deixa ficar mal mas eu, por norma deixo ficar mal Setembro! Porque o deixo passar e acabar sem falar sobre um dos dias mais importante do mês: o dia em que festejamos os anos do Gui! Já falei sobre o dia do aniversário propriamente dito, aqui e de como optámos por lhe oferecer memórias em vez de bens e tralha perecível. Mas ainda não falei da festa propriamente dita, sendo que este ano tentei também controlar-me, seguindo um pouco a mesma filosofia. Não foi fácil, acabei por exagerar aqui e ali, mas acredito que com o tempo isto melhora (ou não)! Este ano o tema estava definido há algum tempo. Depois de termos decidido que o primeiro ano seria festejado entre nuvens e balões de ar quente, ele começou a mostrar a sua preferência pelos 'Heróis da Cidade' e ficou claro que a festa do segundo aniversário iria enveredar por aí. Não foi fácil, até porque não há absolutamente nada à venda sobre este tema o que me obrigou a puxar ainda mais pela cabecinha e a ma

Panquecas de Aveia e Laranja

Esta semana descobri a pólvora, ou melhor, AS panquecas! Há muito que usamos esta opção como pequeno almoço ou lanche, em dias com mais tempo e sempre com receitas adaptadas para que o G. também possa comer. Fazia essencialmente as receitas do Blogue Na Cadeira da Papa  e ia variando nos acompanhamentos. No entanto, esta semana, por mero acaso descobri umas Panquecas de Limão, cuja receita original retirei daqui  e que, de imediato me pareceram muito bem. Não tendo todos os ingredientes da receita original, improvisei com o que tinha e, não havendo limões, saíram umas Panquecas de Laranja cuja receita vos deixo a seguir. Espero que gostem. Cá em casa tem sido um sucesso! Panquecas de Laranja (aproximadamente 6 panquecas do tamanho da imagem): - 2 ovos - 1 iogurte natural (já usei também grego e coloquei 125gr) - 4 colheres de sopa de flocos de aveia (que pulverizei em farinha mas que pode ser usada assim) - 1 colher de chá de fermento para bolos - açúcar amarelo