Avançar para o conteúdo principal

Talvez seja tempo de mudança

Hoje estava pronta para fazer o balanço do primeiro mês de trabalho. Depois parei e pensei: ainda só passaram 20 dias... sim. Já estou cansada como se trabalhasse há meses mas não. Ainda não passou sequer um.

Tem sido duro. As noites que já eram de seis horas voltaram a ser de três ou mesmo de duas horas seguidas se sono. Muita maminha, muito miminho. Mas às seis quando ele pega no sono eu tenho que me levantar não tarda para pegar no trabalho.

Gozo uma hora antes, que me dá a oportunidade de o preparar para a creche e de sairmos os três de casa à mesma hora. Gozo outra hora no fim. Mas nem sempre. O trabalho é muito e é raro o dia em que às três já despi a farda. E ainda gasto 40 minutos de cada uma dessas horas em viagem.

Tenho me sentido mais stressada do que gostaria. Sair mais cedo implica mais rapidez e a mesma eficiência para não prejudicar quem segue o meu turno. Mas nem sempre sou tão rápida quanto gostaria porque é mesmo assim quando trabalhamos com pessoas. Pessoas que precisam muito mais de uma palavra ou de uma mão amiga do que de qualquer medicação.

E depois tenho trazido para casa mais do que gostaria. O caminho de volta permite me um certo distanciamento e, na maioria dos dias quando chego a casa já tudo passou. Mas noutros dias não. Nos dias como hoje. Dias em que parece que dois braços não chegam. Em que nos deixamos levar pelo sofrimento de alguém. Em que nos toca tanto que temos que recolher à sala e chorar. Dias em que 40km de caminho não apagam o que vimos e que nos permanece na mente mais tempo do que gostaríamos.

Hoje foi o primeiro desses dias desde há muito. E era isto que eu não queria. Estar em casa, o sitio onde mais quero estar e,no meio de uma gargalhada ou outra vir me à lembrança o que deixei para trás. E eu não queria. Não quero!

Não quero o tempo que passo com o meu filho invadido por estes pensamentos, por estes estilhaços que diariamente me atingem. Não quero. Já disse isto antes e cada vez mais acredito que o resto da minha vida não será passado a fazer o que faço neste momento. Pelo menos não nestes moldes, não nesta área.

Quando conhecemos a felicidade plena deixamos de nos contentar com o ser feliz assim-assim. E é assim que me sinto em relação ao meu trabalho e à minha carreira. Talvez esteja na hora de mudar. De serviço, de área, de emprego ou de carreira. Não sei. Mas talvez seja tempo de mudança.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Quanto [me] custa ser Enfermeira

Custa muito. Custa tanto que às vezes acho que não vale a pena. E uso a palavra 'custar' de propósito porque, bem vistas as coisas, há sempre uma associação ao nosso salário: são pagos para isso, não fazem mais do que a vossa obrigação. E ouvir isto assim, dito da boca para fora, magoa. Magoa muito.  Magoa porque quem o diz, não faz ideia de quanto custa, por exemplo, amparar a queda de quem descobre que vai morrer. A quem é dito que já não há cura. Amparar o desencanto de sonhos interrompidos aos 20, aos 30, aos 40 anos. Não importa a idade. São sempre sonhos de alguém. Não faz ideia de que é inevitável projectarmos a nossa vida nestas vidas e que vivemos sempre assustados com o que nas nossas vidas pode surgir. Magoa porque não fazem ideia de quanto custa segurar na mão de quem parte e depois segurar na mão de quem fica. Aliás, a maioria das pessoas nunca teve que ver um cadáver de perto, quanto mais acompanhar essa passagem tão avassaladora, que culmina num último s...

Eu não perdi nada

Era capaz de passar horas a ver-te brincar. Já tão bem sentado, a encher e esvaziar o balde dos legos ou a trocar bolas de uma mão para a outra. Com os teus dedos pequeninos já viras páginas de cartão, já fazes girar as rodas do carro, já sabes dizer que não. Tens nove meses. O mesmo tempo que esperámos para te ver. E como pareceu grande essa espera. Apesar de calma e serena, mais lá para o final, a gravidez parecia nunca mais acabar tal era a ânsia de te conhecer. Mas estes últimos nove meses, estes em que já te temos nos braços, passaram a voar. Foi a voar que de bebé te tornaste em menino e como é bom ver-te crescer. Mas não posso negar que tenho saudades. Tão pouco tempo e já tanta saudade. Saudade de caberes no meu peito, de encaixares a carinha no meu pescoço, de te embrulhar em mantinhas e em roupas pequeninas. Cresceste tanto e tão depressa. Mas estou tranquila. Não perdi nada. Não perdi pitada desses tempos. Eles passaram a voar mas eu aproveitei, ah se aproveitei. Enqua...

O meu parto dava um blogue

Durante algum tempo foi este o título que me viveu na mente para dar nome a este cantinho. Era sobre isso que queria e precisava falar. O que aquele dia me fez, o que deixou em mim e o que levou. Mas depois não era só  disso que queria falar porque acredito que, aos poucos vou ser mais do que essas marcas. Também queria falar deles, de nós, dos nossos dias, enfim. Escolher esse título seria muito redutor. Mas uma certeza tinha, a de que  escreveria um post com esse título. Tinha que escrever sobre isto porque se fala pouco do lado menos cor de rosa da maternidade e eu senti-o na pele. Ah se senti. Esperei ansiosamente por aquele dia. Os últimos dias então eram intermináveis e só tinha 37 semanas. Mas via toda a gente a chegar às 40/42 e eu não queria. Não queria mesmo! E tive essa conversa com o meu filho que, mostrando já o doce de menino que era, fez me a vontade. No dia 25 de Setembro, com 37 sema...