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Ainda sobre o ano velho

Os últimos meses do ano passado foram bastante atribulados. O G. adoeceu em Novembro e, até ao final do ano já tinha feito três vezes antibiótico. Esteve internado, eu estive com ele. Oito dias em isolamento por um vírus respiratório. Vê-lo doente não é fácil, nunca foi, mas vê-lo doente ali, despido, a arder em febre, com a respiração e o coração acelerado fazia quase parar o meu. 

A vida cá fora ficou em stand by. Obviamente deixei o trabalho e o pai ia trabalhar de manhã para durante a tarde estar connosco e eu poder tomar um banho quente e comer uma refeição de faca e garfo. O tempo parou. Quando me falavam em cinco dias, sete dias eu não tinha a noção de ter passado tanto tempo. 

Fizemos amigos na cama ao lado e era com eles que passavam os dias. Como diria a mãe do J. 'rimos juntas de dia e de noite chora cada uma para seu lado'. Porque a febre não passava. Porque até passou de dia mas à noite voltou. Porque íamos ter alta mas já não vamos. Porque a saturação teima em descer mal eles adormecem.

Ele deixou de comer e foi a mama que o manteve dias a fio. Dias em que comia meio iogurte de manhã e mamava o resto do dia. E que grata que sou por conseguir amamentá-lo até agora. Por ter conseguido ultrapassar tanta dificuldade e palpite alheio. 

Mas mais grata sou por terem sido só oito dias. Só. Sim, Porque também fizemos amizades na enfermaria do lado onde estava uma mãe e o seu filho quase residente. Uma mãe que por cada infecção respiratória coloca a hipótese de não haver recuperação e ser a última vez que embala o filho. Uma mãe que conhece as equipas das pediatrias da zona, que sabe o nome de todos os enfermeiros, que sabe onde é o bar e a cantina deste e dos outros hospitais. Uma mãe que vive com o filho mais dias internado do que em casa. Uma mãe que mesmo assim, me encontrou de lágrima no olho à entrada do serviço e, do meio de todo o seu sofrimento arrancou um sorriso e um abraço que chegaram para nós também.

Tivemos alta por fim. Desde então até à data já contamos mais duas otites, mais dois antibióticos. Já nem consigo precisar as semanas em que termina o antibiótico, em que vai à escola e volta a adoecer. Foi por isso um final de ano difícil como aliás, todo o ano de 2016. Um ano duro. Não necessariamente mau, mas muito duro. Trabalhoso, desafiante, cansativo mas igualmente cheio de momentos para guardar na memória e no coração.

E eis que pelo meio da atribulação dos últimos dias do ano chegou uma notícia que aguardávamos há algum tempo e que trouxe
uma resolução que eu desejava mas com que não contava tão cedo. Um novo emprego. Um caminho novo que eu espero que traga tudo aquilo que desejei quando me lancei em busca dele. Ainda na minha área, ainda com as limitações de tempo que o meu trabalho implica mas com algumas alterações que poderão fazer a diferença. Vamos ver. Diz o ditado que 'quem muda Deus ajuda' e eu quero acreditar que sim.


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