Amamentar não é fácil. Salvo algumas excepções, é um caminho longo, nem sempre a direito, com obstáculos mais ou menos difíceis de ultrapassar. É, na maioria das vezes uma história de perseverança, teimosia e superação, sem esquecer que, qualquer história que envolva mãe e filho, é também uma história de amor. Nem melhor nem pior do que as histórias de amor de quem, por qualquer razão não amamentou. É só mais uma história de amor e esta é a nossa.
Para nós até nem começou mal. Sempre expressei a minha vontade de amamentar o meu filho e, apesar do longo e medonho parto que tivemos, pude fazê-lo assim que ele nasceu. Sei hoje que foram aqueles olhos que me salvaram, dos dias seguintes em que me senti completamente perdida. Em que chorei horas a fio. Em que achei que estava a fazer tudo mal.
Ou pelo menos não devia estar a fazer tudo bem, porque doía. Porque fiquei com feridas e não era suposto ficar. Porque ele mamava e depois chorava e eu persistia sem saber muito bem para onde me virar. Porque cedi e lhe dei a chupeta. Porque não aguentei e dei de mamar com mamilos de silicone que afinal, também não se deviam usar. Mas ele mamava e, naquele momento era isso que me interessava: conseguir alimentá-lo exclusivamente com leite materno. E foi indo. Foi fluindo. Muito devagar.
E quando digo devagar é porque ele mamava mesmo muito devagar (achava eu). Cada mamada durava, no mínimo uma hora. Fosse onde fosse, estivesse onde estivesse, era certo e sabido que estaria mais de uma hora a amamentar. Em casa, em qualquer cantinho de amamentação ou no carro na berma da estrada. Se assim não fosse, ele chorava a plenos pulmões e eu, desesperada, chorava com ele.
Eu tinha lido, eu tinha pesquisado. Eu sabia que o meu leite o alimentava e que quando ele chorava não era só por fome. E também sabia que amamentá-lo lhe dava muito mais do que alimento. E era isso que me fazia persistir, insistir e não desistir. Mesmo quando as dores voltaram em força, com ductos entupidos, com horas na bomba para os desentupir, com febre e mastites à mistura.
Foi nesta altura que li ainda mais e procurei ajuda. Descobri-a num grupo de mães onde conheci conselheiras de aleitamento materno. Percebi que o que estava a passar era a realidade, nua e crua da amamentação, aquela de que quase ninguém fala. Aquela para a qual não estamos nem vamos preparadas e com a qual temos que lidar muitas vezes sozinhas, gerindo palpites de todo o género e conselhos que se dispersam nas mais variadas direcções. Aquela que nos apanha de surpresa e leva muitas mulheres a desistir daquilo que até então tinham como certo: a vontade de amamentar os filhos.
Percebi então que os mamilos de silicone tinham resolvido temporariamente o meu problema inicial, mas que eram, provavelmente eles que me estavam a trazer todos os outros problemas secundários. Mentalizei-me que estava na altura de tentar amamentar sem eles. As dores intensificaram-se novamente mas o facto de ele mamar em quinze minutos e, literalmente cair para o lado a dormir, mostrou-me que era esse o caminho. E foi.
A partir daí sim, comecei a sentir a amamentação como das melhores experiências que teria oportunidade de viver. Comecei a desfrutar desse momento tão nosso, com a paz e serenidade que lhe era devido. Amamentar deixou de ser um drama, mesmo nas vezes em que ele queria novamente mamar uma hora, ou duas. Aprendi o verdadeiro significado de 'livre demanda' e passei a respeitar o que realmente importava: o meu filho e eu.
Mas também este processo é um desafio, acima de tudo de aceitação. De que o meu bebé não é igual ao da vizinha, de que o que funciona com o dela pode não funcionar com o meu. De que o meu pode acordar mais vezes e ter necessidades maiores de contacto e atenção. Entre outras coisas que fui percebendo e adaptando ao que para nós fazia sentido.
Fomos assim percorrendo o nosso caminho que conta agora com 20 meses de amamentação. Não fomos sempre a direito, e grande parte dos obstáculos e provas que temos ultrapassado têm vindo de uma sociedade que não está preparada para quem decide amamentar. Seja muito ou pouco tempo. O regresso ao trabalho, a luta pelo direito às horas de amamentação, o trabalho por turnos, o esforço por ignorar quem acha que pode decidir até quando o meu filho mama. São pedras no caminho, que alguns dias não nos atingem mas noutros quase nos fazem tropeçar.
Continuo a dizer que amamentar o meu filho é das melhores experiências que tenho oportunidade de viver, embora agora, vinte meses volvidos, já haja dias em que acuso algum cansaço. Porque há dias em que precisava de chegar do trabalho e esticar-me, mas antes disso tenho que me aninhar no berço dele o tempo que ele decidir estar a mamar. Porque há dias que passamos juntos, em que ele mama cinco, seis vezes ao dia, e quando vai mamar para dormir chego a ter dores muito perto das que tive inicialmente. Porque há dias em que sinto que ele me procura só para mamar e, caramba, gostava que ele me visse como mais do que isso. E depois há dias em que volto a estar física e mentalmente disponível para objectivo a que nos propusémos: mamar até ele decidir que não quer mais. E volta a ser maravilhoso.
Mas se estou cansada porque não me deixo disto?! Já me perguntaram. Porque, como em tudo na vida e, principalmente na vida com eles, é uma fase, que em breve vai passar e da qual vou ter imensas saudades. Apesar de haver momentos em que já ponderei o desmame, quando páro e penso de cabeça fria, só me parece um verdadeiro disparate. E admitir-me cansada e falar sobre isso não significa que queira ser eu a dar o passo para pôr fim a esta caminhada. Aliás, falar sobre isso só faz bem, porque percebo, entre amigas que trilham o mesmo caminho, que todas, em algum momento se sentem assim. E isso ajuda-me.
Ajuda-nos a continuar neste nosso caminho que teve e tem momentos muito bons mas que também já teve e tem momentos muito maus. E era essencialmente isso que gostava de transmitir a quem, por alguma razão decidir ler esta minha partilha. É bom, sim. Mas nem sempre fácil ou obrigatório. É o melhor, pois com certeza, mas nenhuma mãe é menos mãe por não amamentar um filho. Há razões mais válidas que outras, talvez haja sim. Mas como eu dizia anteriormente, qualquer história entre mãe e filho é uma história de amor, única e intransmissível. Diferente e incomparável. Sejamos mais brandas, mais compreensivas. Porque quase sempre há coragem para julgar, mas quase nunca há coragem de admitir que, em algum momento, também já nos sentimos assim.
Para nós até nem começou mal. Sempre expressei a minha vontade de amamentar o meu filho e, apesar do longo e medonho parto que tivemos, pude fazê-lo assim que ele nasceu. Sei hoje que foram aqueles olhos que me salvaram, dos dias seguintes em que me senti completamente perdida. Em que chorei horas a fio. Em que achei que estava a fazer tudo mal.
Ou pelo menos não devia estar a fazer tudo bem, porque doía. Porque fiquei com feridas e não era suposto ficar. Porque ele mamava e depois chorava e eu persistia sem saber muito bem para onde me virar. Porque cedi e lhe dei a chupeta. Porque não aguentei e dei de mamar com mamilos de silicone que afinal, também não se deviam usar. Mas ele mamava e, naquele momento era isso que me interessava: conseguir alimentá-lo exclusivamente com leite materno. E foi indo. Foi fluindo. Muito devagar.
E quando digo devagar é porque ele mamava mesmo muito devagar (achava eu). Cada mamada durava, no mínimo uma hora. Fosse onde fosse, estivesse onde estivesse, era certo e sabido que estaria mais de uma hora a amamentar. Em casa, em qualquer cantinho de amamentação ou no carro na berma da estrada. Se assim não fosse, ele chorava a plenos pulmões e eu, desesperada, chorava com ele.
Eu tinha lido, eu tinha pesquisado. Eu sabia que o meu leite o alimentava e que quando ele chorava não era só por fome. E também sabia que amamentá-lo lhe dava muito mais do que alimento. E era isso que me fazia persistir, insistir e não desistir. Mesmo quando as dores voltaram em força, com ductos entupidos, com horas na bomba para os desentupir, com febre e mastites à mistura.
Foi nesta altura que li ainda mais e procurei ajuda. Descobri-a num grupo de mães onde conheci conselheiras de aleitamento materno. Percebi que o que estava a passar era a realidade, nua e crua da amamentação, aquela de que quase ninguém fala. Aquela para a qual não estamos nem vamos preparadas e com a qual temos que lidar muitas vezes sozinhas, gerindo palpites de todo o género e conselhos que se dispersam nas mais variadas direcções. Aquela que nos apanha de surpresa e leva muitas mulheres a desistir daquilo que até então tinham como certo: a vontade de amamentar os filhos.
Percebi então que os mamilos de silicone tinham resolvido temporariamente o meu problema inicial, mas que eram, provavelmente eles que me estavam a trazer todos os outros problemas secundários. Mentalizei-me que estava na altura de tentar amamentar sem eles. As dores intensificaram-se novamente mas o facto de ele mamar em quinze minutos e, literalmente cair para o lado a dormir, mostrou-me que era esse o caminho. E foi.
A partir daí sim, comecei a sentir a amamentação como das melhores experiências que teria oportunidade de viver. Comecei a desfrutar desse momento tão nosso, com a paz e serenidade que lhe era devido. Amamentar deixou de ser um drama, mesmo nas vezes em que ele queria novamente mamar uma hora, ou duas. Aprendi o verdadeiro significado de 'livre demanda' e passei a respeitar o que realmente importava: o meu filho e eu.
Mas também este processo é um desafio, acima de tudo de aceitação. De que o meu bebé não é igual ao da vizinha, de que o que funciona com o dela pode não funcionar com o meu. De que o meu pode acordar mais vezes e ter necessidades maiores de contacto e atenção. Entre outras coisas que fui percebendo e adaptando ao que para nós fazia sentido.
Fomos assim percorrendo o nosso caminho que conta agora com 20 meses de amamentação. Não fomos sempre a direito, e grande parte dos obstáculos e provas que temos ultrapassado têm vindo de uma sociedade que não está preparada para quem decide amamentar. Seja muito ou pouco tempo. O regresso ao trabalho, a luta pelo direito às horas de amamentação, o trabalho por turnos, o esforço por ignorar quem acha que pode decidir até quando o meu filho mama. São pedras no caminho, que alguns dias não nos atingem mas noutros quase nos fazem tropeçar.
Continuo a dizer que amamentar o meu filho é das melhores experiências que tenho oportunidade de viver, embora agora, vinte meses volvidos, já haja dias em que acuso algum cansaço. Porque há dias em que precisava de chegar do trabalho e esticar-me, mas antes disso tenho que me aninhar no berço dele o tempo que ele decidir estar a mamar. Porque há dias que passamos juntos, em que ele mama cinco, seis vezes ao dia, e quando vai mamar para dormir chego a ter dores muito perto das que tive inicialmente. Porque há dias em que sinto que ele me procura só para mamar e, caramba, gostava que ele me visse como mais do que isso. E depois há dias em que volto a estar física e mentalmente disponível para objectivo a que nos propusémos: mamar até ele decidir que não quer mais. E volta a ser maravilhoso.
Mas se estou cansada porque não me deixo disto?! Já me perguntaram. Porque, como em tudo na vida e, principalmente na vida com eles, é uma fase, que em breve vai passar e da qual vou ter imensas saudades. Apesar de haver momentos em que já ponderei o desmame, quando páro e penso de cabeça fria, só me parece um verdadeiro disparate. E admitir-me cansada e falar sobre isso não significa que queira ser eu a dar o passo para pôr fim a esta caminhada. Aliás, falar sobre isso só faz bem, porque percebo, entre amigas que trilham o mesmo caminho, que todas, em algum momento se sentem assim. E isso ajuda-me.
Ajuda-nos a continuar neste nosso caminho que teve e tem momentos muito bons mas que também já teve e tem momentos muito maus. E era essencialmente isso que gostava de transmitir a quem, por alguma razão decidir ler esta minha partilha. É bom, sim. Mas nem sempre fácil ou obrigatório. É o melhor, pois com certeza, mas nenhuma mãe é menos mãe por não amamentar um filho. Há razões mais válidas que outras, talvez haja sim. Mas como eu dizia anteriormente, qualquer história entre mãe e filho é uma história de amor, única e intransmissível. Diferente e incomparável. Sejamos mais brandas, mais compreensivas. Porque quase sempre há coragem para julgar, mas quase nunca há coragem de admitir que, em algum momento, também já nos sentimos assim.
Para mim também não foi e não é fácil, mas não me arrependo de continuar a amamentar o meu filho. Peço desculpa se não for bem compreendida, mas assumo que tenho pena dos bebés que não tiveram a experiência da amamentação ou que a tiveram muito pouco tempo, porque é um momento em que tem a mãe só para ele!... Mas o que leva muitas mães a desistir da amamentação é causado por situações por vezes difíceis, e essas mães têm todo o meu respeito, porque eu também fiz o mesmo com a minha filha...
ResponderEliminarObrigada obrigada obrigada. ❤ reli.me em cada frase. Um arrepio do principio ao fim. Maravilhoso este mundo
ResponderEliminarO meu faz este mês 2 anos e continuo a dar-lhe de mamar até quando ele quiser. Para além disso é o meu momento com ele, porque tenho de dividir a atenção com o irmão mais velho e é um momento tranquilo sabe muito bem aos 2. E sim tive mts mts problemas com a amamentação, dores horríveis e posso dizer que tentei desistir por não aguentar mais.. Só não o fiz porque ele não pegou no biberão e ainda bem para hoje ainda o poder ter por breves instantes junto a mim no nosso momento.
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