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Volta sempre Setembro, mas sem pressa.

Setembro passou conforme chegou: rápido demais. Tal como passa tudo o que gostamos, tudo o que ansiamos, tudo o que nos faz sentir bem. Ou não estivesse a sabedoria popular certa, na maioria das vezes e não fosse verdade o ditado ' o que é bom acaba rápido'.

Chegou e trouxe as férias, as tão esperadas férias (pronto, talvez neste ponto, Setembro tenha demorado muito a chegar ahh ah ah, demasiado até, mas adiante). As primeiras férias verdadeiramente a três. O ano passado já o levámos connosco mas só eu o sentia pular com o sol na barriga ou com o som de uma onda mais forte. Na consulta antes da viagem ele mudara de posição, sentando-se de frente. Dizia a médica que já sabia que ia para a beira mar. Este ano pensei que talvez ela estivesse certa, porque se o queremos ver feliz é deixá-lo à beirinha da água a chapinhar. 

Trouxe o aniversário do N. que ele diz que já não conta porque a partir dos 30 deixou de contar. Na realidade, por vontade dele, nenhum contaria já que nunca gostou muito de festejar os anos. Ninguém diria se o visse este ano. Perdido de amores por aquele ser pequenino, a enterrar-lhe os pés na areia, a rir-se como um perdido enquanto eu tentava limpar a areia que o G. insistia em levar à boca. No fim do dia pensámos os dois o mesmo: afinal este ano é que contou a sério.

E trouxe o primeiro aniversário do G. Um ano passado depois daquele dia mas que, praticamente não lembrei. Celebrámos sim o seu primeiro ano de vida nas nossas vidas. Juntos e na companhia de família e  amigos celebrámos o bebé que foi, o menino em que se está a tornar, a alegria dele e a que nos dá, as conquistas, os sorrisos rasgados com que nos presenteia a todos e o amor. Acima de tudo o amor. O nosso por ele, o dele por nós, o de todos por ele e por nós. E como é bom sentir mo nos amados pelos que nos rodeiam e sentir que o nosso filho é também amado por aqueles que nos são queridos. Foi um dia em cheio, cansativo mas muito feliz, que eu já andava a preparar há imenso tempo. Mas disto falarei em outro post. 

Neste quero só deixar escrito o quão especial foi este mês (ou não fosse essa a tradição). Porque foram praticamente três semanas de férias, em que voltámos a acordar juntos, todos os dias. Em que continuámos a ter noites mal dormidas mas em que a preocupação era nenhuma porque não havia compromisso no dia a seguir. Em que depois de o adormecer lembrámos, nostálgicos momentos deste ano que passou. Vimos fotos, vimos vídeos, rimos tanto e eu, claro está, também chorei. Não de tristeza mas de nostalgia, por tempos e momentos que não voltam mas que deixaram marcas profundas na minha vida. E, se houve alturas em que julguei que só lembraria as marcas más, hoje sei que as boas têm prevalecido. São as boas que me trazem aquele friozinho à barriga, como se conseguisse, por momentos, voltar a senti-lo pequenino, acabado de nascer, pousado no meu peito. 

Se vieres sempre assim Setembro, volta sempre, mas sem pressa.

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