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O quarto está pronto. Nós é que não.

O quarto ficou montado ainda antes da mala da maternidade estar pronta. Tudo muito branco, verde água e azul, tal e qual como idealizara para o receber. A partir dos seis meses era ali que o G. ia dormir, noites serenas e tranquilas. Até porque era a idade recomendada para mudar de quarto. Antes disso não, por causa do risco de morte súbita. Depois disso nem pensar, porque nunca mais íamos conseguir tirá-lo do nosso quarto. Na nossa cama estava fora de questão! Era arriscado e pior do que isso, ia ficar mal habituado! Ainda assim, como pretendia amamentar, providenciámos um berço em side car, que nos foi emprestado por um casal muito amigo. Até isso me pareceu bem. porque estar a comprar um berço para seis meses era um desperdício.

Só que não.

Um mês depois já tinha percebido que a prática em pouco correspondia à teoria. Que era junto a nós que ele acalmava. Que era de mão dada que ele adormecia. Que amamentar era um desafio e que de noite funcionava melhor deitada. Que as noites demorariam a ser calmas e tranquilas. Que dormir agarrado a um bebé era das melhores coisas do mundo e que afinal quem se estava a habituar mal éramos nós.

Olhar para ele pequenino, ali ao lado, já nos fazia pensar que talvez seis meses fosse cedo. Porque está frio, Porque podemos não ouvi-lo chorar. Porque até há quem defenda que devem estar acompanhados até ao ano. Porque sim e porque passou a fazer sentido para nós. 

E portanto aquele tal berço não ia chegar. Não há problema que há uma cama de grades em casa da avó. Mas tem grades! Eu não vou dar lhe a mão por entre as grades. Não há problema que o avô tira-lhe a grade! Encosta à cama e já está. Temos berço até ao ano, Até aos dois. Até ele pedir para dormir no quarto verde. Até nós sentirmos que isso não vai criar ansiedade a nenhum de nós.


As noites são tranquilas? Não são. Muito longe disso. Há fases (demasiado longas) em que os despertares são de hora a hora ou menos. Já tentámos o quarto dele? Já. Várias vezes. Demasiadas até perceber que as viagens entre o nosso quarto e o dele não fazem sentido e só nos deixam mais cansados na manhã seguinte. Assim ele desperta mas, na maioria das vezes, basta aconchegá-lo junto a nós, dar-lhe de mamar e volta a adormecer.

Passámos, no entanto, uma fase muito difícil. Semanas seguidas em que o G. acordava muito, às vezes de 40 em 40 minutos, sobressaltado, a gritar, ainda de olhos fechados. Sem percebermos muito bem porquê fez o desmame da chupeta sozinho e a única forma de o acalmar nesta fase era a mama e nem sempre resultava. Andávamos exaustos, ele próprio acusava cansaço necessitando de, pelo menos, mais uma mini sesta durante o dia. Eu achei que enlouquecia. Passar noites praticamente em claro, em que às 4:00h da manhã estávamos a brincar aos carrinhos porque nada mais o sossegava e às 6:30h estava a levantar-me para trabalhar. Foi uma fase muito dura que não desejo a ninguém mas que, como todas as outras acabou por passar (até ver pelo menos!). Culminou no nascimento de dois dentes, na aquisição da marcha e, por fim, numa otite. Tinha ou não tinha razão para não dormir?! Eles têm sempre razão.

Tudo isto para dizer que é assim que funciona para nós. Nas fases fáceis o co-sleeping permite-nos quase não despertar e nas difíceis facilita, na medida em que não temos que passar por tudo isto entre um quarto e outro. E depois, já passamos tanto tempo afastados durante todo o dia, todos os dias. Há dias em que chego tão tarde que só sobra tempo para o banho, jantar e maminha para dormir. E depois vou pô-lo a dormir sozinho? Longe de nós? Não sou capaz. Ainda não somos capazes. Por isso, o quarto está pronto. Nós é que não.

O nosso berço em side car
Nota: Existem normas para a prática de co-sleeping seguro. Há que estar a par delas e colocá-las em prática para que resulte de forma segura e harmoniosa para toda a família. Bons sonhos!

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