Avançar para o conteúdo principal

És o meu maior milagre

Faz hoje um ano que vim para casa esperar por ti. À partida a gravidez não era de risco mas poderia passar a ser, caso apanhasse alguma das infeções que tratamos no meu serviço. Para não falar do cansaço e das vezes que quase adormeci nos 80km diários que fazia para ir trabalhar.

Sinceramente a decisão da médica foi um alívio. Engravidei numa altura em que tivémos um pico de doentes infetados e cada vez que entrava num dos quartos subia me um nó à garganta. Este filho não era só meu e prejudicá lo com alguma doença, ainda por cima contraída ali seria uma culpa triste de carregar.

Por isso, quando finalmente vim para casa é que comecei verdadeiramete a desfrutar de ti. Sem stress, sem pressa, sem medo. Foi o melhor que me podia ter acontecido e foram os melhores meses da minha vida.

Quando olho para trás consigo lembrar me ao pormenor de determinados dias e situações. Lembro-me do primeiro dia em que, com calma me besuntei em creme para as estrias. Ainda mal se notava a barriga mas há que prevenir. Acabei por enjoar o creme ao terceiro mês e ao quinto já tinha percebido que estrias era o menor dos problemas ah ah ah.

Lembro-me do dia em que vislumbrámos no ecrã que se calhar eras um menino. Saí de lá com o coração a rebentar mesmo depois de ter passado anos a imaginar me com uma menina. Eras o meu rapazinho e eu não cabia em mim de contente.

Lembro-me de te sentir de mansinho e ficar na dúvida se serias tu. Até te sentir sem dúvida e, através da pele o papá conseguir agarrar te num braço.

Lembro-me de cada peça de roupa que lavei e dobrei. E desdobrei e voltei a dobrar só para olhar para elas e imaginar-te lá dentro. Hoje olho para elas e não sei como já coubeste em algo tão pequenino.

Lembro-me praticamente de tudo e sou grata por me ter sido concedida a oportunidade de viver tudo isto tão intensamente. São tempos que não voltam e que quero manter guardados assim, desta maneira tão viva que me leva às lágrimas só de os lembrar.

Em menos de um mês volto ao trabalho (já ninguém me atura a falar disto). E só um milagre permitiria que eu pudesse ficar mais tempo contigo. Mas nem me atrevo a pedi-lo. Milagres não acontecem todos os dias e para quem teve um há tão pouco tempo seria uma injustiça roubar a vez a alguém. Tu foste o meu milagre e isso já ninguém me pode tirar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Quanto [me] custa ser Enfermeira

Custa muito. Custa tanto que às vezes acho que não vale a pena. E uso a palavra 'custar' de propósito porque, bem vistas as coisas, há sempre uma associação ao nosso salário: são pagos para isso, não fazem mais do que a vossa obrigação. E ouvir isto assim, dito da boca para fora, magoa. Magoa muito.  Magoa porque quem o diz, não faz ideia de quanto custa, por exemplo, amparar a queda de quem descobre que vai morrer. A quem é dito que já não há cura. Amparar o desencanto de sonhos interrompidos aos 20, aos 30, aos 40 anos. Não importa a idade. São sempre sonhos de alguém. Não faz ideia de que é inevitável projectarmos a nossa vida nestas vidas e que vivemos sempre assustados com o que nas nossas vidas pode surgir. Magoa porque não fazem ideia de quanto custa segurar na mão de quem parte e depois segurar na mão de quem fica. Aliás, a maioria das pessoas nunca teve que ver um cadáver de perto, quanto mais acompanhar essa passagem tão avassaladora, que culmina num último s

Eu e a festa dele: dois anos.

Setembro nunca me deixa ficar mal mas eu, por norma deixo ficar mal Setembro! Porque o deixo passar e acabar sem falar sobre um dos dias mais importante do mês: o dia em que festejamos os anos do Gui! Já falei sobre o dia do aniversário propriamente dito, aqui e de como optámos por lhe oferecer memórias em vez de bens e tralha perecível. Mas ainda não falei da festa propriamente dita, sendo que este ano tentei também controlar-me, seguindo um pouco a mesma filosofia. Não foi fácil, acabei por exagerar aqui e ali, mas acredito que com o tempo isto melhora (ou não)! Este ano o tema estava definido há algum tempo. Depois de termos decidido que o primeiro ano seria festejado entre nuvens e balões de ar quente, ele começou a mostrar a sua preferência pelos 'Heróis da Cidade' e ficou claro que a festa do segundo aniversário iria enveredar por aí. Não foi fácil, até porque não há absolutamente nada à venda sobre este tema o que me obrigou a puxar ainda mais pela cabecinha e a ma

Panquecas de Aveia e Laranja

Esta semana descobri a pólvora, ou melhor, AS panquecas! Há muito que usamos esta opção como pequeno almoço ou lanche, em dias com mais tempo e sempre com receitas adaptadas para que o G. também possa comer. Fazia essencialmente as receitas do Blogue Na Cadeira da Papa  e ia variando nos acompanhamentos. No entanto, esta semana, por mero acaso descobri umas Panquecas de Limão, cuja receita original retirei daqui  e que, de imediato me pareceram muito bem. Não tendo todos os ingredientes da receita original, improvisei com o que tinha e, não havendo limões, saíram umas Panquecas de Laranja cuja receita vos deixo a seguir. Espero que gostem. Cá em casa tem sido um sucesso! Panquecas de Laranja (aproximadamente 6 panquecas do tamanho da imagem): - 2 ovos - 1 iogurte natural (já usei também grego e coloquei 125gr) - 4 colheres de sopa de flocos de aveia (que pulverizei em farinha mas que pode ser usada assim) - 1 colher de chá de fermento para bolos - açúcar amarelo