Porque apesar de viver revoltada com a minha profissão, continuo a ser profissional de saúde e a não ficar indiferente a certos assuntos. Principalmente quando me vou apercebendo de que as escolhas que se fazem nem sempre são baseadas em boa e credível informação. Faço parte de alguns grupos de mães, onde cada qual é livre de expressar a sua opinião. Quando intervenho é porque alguma coisa realmente me impele a tal e, normalmente uma delas é ver alguém a dar ou receber informação menos correcta que pode levar a uma pior escolha. Chego, explico o que sei e faço a minha parte.
E é o que vou fazer aqui, neste post e noutros se assim se proporcionar. Acho que se chegamos às pessoas com aquilo que escrevemos, porque não chegar também a assuntos deste género, desde que com informação correcta, fidedigna e de fácil compreensão. Ressalvo que sim sou enfermeira, mas na prestação de cuidados a pessoas adultas, pelo que não sou nenhuma especialista em saúde infantil. Há, no entanto sempre um ou outro aspecto sobre o qual estamos por dentro e interesso-me sempre em saber mais, não tivesse eu uma criança em casa.
E com as notícias que por aí andam, decidi escrever sobre vacinação. É um tema polémico, que gera sempre grandes discussões, nomeadamente quando falamos em vacinas extra plano. Mas quando perguntamos a alguém o porquê de tomar determinado partido, percebemos, na maioria das vezes, que é porque A ou B disseram isto ou aquilo, ou porque conhecem um amigo de um amigo que não sei quê. Respiremos. Estamos a falar de decisões importantes para a vida daqueles que mais amamos. Decisões que estamos a tomar POR eles, que não têm ainda a capacidade de decidir. Portanto, se queremos a tranquilidade de escolher o melhor, informemo-nos!
Se relativamente às vacinas extra plano aceito as várias justificações para dar ou não dar (dentro do razoável) já relativamente às vacinas constantes do Plano Nacional de Vacinação a coisa já não figura assim. Ninguém, decidiu, por auto recreação que se devia andar a picar deliberadamente as criancinhas de mês a mês só porque sim. Se pesquisarmos um bocadinho a evolução da história está retratada e documentada e é bem visível o efeito das vacinas no decréscimo das taxas de mortalidade infantil. A par do saneamento e da água potável, a vacinação tem sido um ponto chave para isto acontecer.
Basicamente, uma vacina tem na sua constituição formas atenuadas e inofensivas do tipo de agente que causa determinada doença. Ao ser administrada a um indivíduo saudável, a vacina provoca no sistema imunitário da pessoa uma reacção que o leva a produzir defesas para aquele tipo específico de agente. Ou seja, caso futuramente a pessoa/criança fique exposta àquele agente, terá defesas contra o mesmo evitando que contraia a doença ou, podendo contrair a doença, os efeitos desta sejam bastante atenuados.
O Plano Nacional de Vacinação determina o acesso equitativo a toda a população, de um determinado número de vacinas que, atendendo à epidemiologia do nosso país, se verificaram importantes. E a manutenção de uma população com grandes taxas de vacinação é muito importante para mantermos a chamada 'imunidade de grupo'. Isto é, além da protecção individual, a maioria das vacinas, a partir de determinadas taxas de cobertura vacinal, interrompem a propagação dos microrganismos, permitindo, em taxas ideais a erradicação de determinada doença (Direcção Geral de Saúde)
O que se passa então com o Sarampo? E porque surge agora este surto?
O Sarampo é uma doença que necessita de uma elevada taxa de vacinação para que a imunidade de grupo se mantenha. Para terem uma noção, é necessário que cerca de 95 a 98% da totalidade do grupo esteja vacinada. Ora como também já devem ter percebido, existem cada vez mais pais que, baseados em vários factores, têm decidido não vacinar os filhos, nomeadamente com as vacinas do PNV. Isto cria um decréscimo na vacinação de grupo abrindo portas ao aparecimento destes surtos.
O Sarampo é uma infecção viral altamente contagiosa para a qual não existe tratamento. Basicamente controlam-se os sintomas no período de acção do vírus e, apesar de normalmente ter um desenvolvimento benigno, em alguns casos pode ser grave e mesmo fatal. E quem fala de sarampo fala em tosse convulsa, da qual também surgiram alguns casos este ano.
Como disse no início, cada um é livre de fazer escolhas e reflexo disso é, o Plano Nacional de Vacinação ser altamente recomendado, mas não ser obrigatório. É dada a opção de escolha a cada pai. Cabe a cada um escolher mas escolher de forma informada, ciente de que, neste assunto não se aplica aquela máxima de 'cada um sabe de si'. Neste assunto a decisão de cada um pode estar a influenciar o bem estar de todos e a fazer renascer problemas que achávamos já estarem minimamente resolvidos.
Deixo-vos sugestões de alguns artigos de opinião e o link do blogue de uma amiga enfermeira que, rápida e simplesmente, resumiu o Plano Nacional de Vacinação, caso queiram ficar com uma noção. Boas leituras.
Artigo do Observador: Vacinar ou não vacinar as criançãs? Vale a pena perguntar?
Opinião do Pediatra Mário Cordeiro: aqui.
Direcção Geral de Saúde: aqui.
Bom artigo Sara!
ResponderEliminarSei que este é um tema polémico e a minha posição perante ele poderá chocar algumas pessoas.
Como cidadã, enfermeira e mãe, acho que os pais que decidem não administrar as vacinas do PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO às suas crianças não deveriam ter este direito de escolha.
Este plano é o resultado de anos de estudo e prática de profissionais de saúde e investigadores, é fundamentado e existe em prol do controlo de doenças altamente contagiosas.
Eu não posso, pura e simplesmente, decidir não vacinar a minha filha, pondo-a em risco não só a ela mas também a todos os outros que a rodeiam.
Por isso, a meu ver o Plano de Vacinação, para além de gratuito e equitativo, deveria ser obrigatório.
Obrigada Sara, por este artigo!
Excelente post, vai de encontro a tudo o que eu penso sobre o assunto :)
ResponderEliminarBjinhoss
https://matildeferreira.co.uk/
Concordo plenamente!
ResponderEliminar